O objeto voador projeta um filete
de luz azulado e se aproxima da estrada. O motor do carro morre. A tentativa de
dar partida é em vão. O homem tenta uma fuga a pé, tão inútil quanto
desesperada. A nave lança uma espécie de esteira, que passa sob os seus pés.
Ele é tragado em direção ao objeto e logo se vê em uma sala ovalada, o corpo
preso por cintas sobre um assento de encosto alto, as mãos presas por
braceletes.
No corpo um macacão cheio de fios
metálicos, na cabeça uma espécie de capacete com visor. Lá fora vê casas com
telhados altos e bem inclinadas, torres de igrejas. De repente, do vale que
avista, vê brotar do chão um óvni em forma de ovo, que, acompanhado de uma
nuvem branca, se eleva nos ares até próximo de onde se encontra. E que lugar é
esse? Essa é parte da descrição de um dos mais impressionantes relatos de
abdução registrados pela ufologia brasileira. O que exatamente o catanduvense
Onílson Pátero vivenciou há 40 anos, completados neste próximo dia 26, é um
mistério ainda longe de ser desvendado.
Seu Onílson morreu em agosto de
2008, aos 75 anos, apenas sete meses após o Diário fazer uma entrevista
exclusiva com ele, em sua casa em Catanduva, na qual ele falou sobre sua
incrível aventura. Agora, quatro décadas depois, a filha Samara Pátero prepara
uma exposição, que deve rodar cidades da região de Rio Preto, para este segundo
semestre. O objetivo é resgatar os fatos em torno daquele 26 de abril de 1974 vividos pelo pai, o qual
ela considera ter sido um privilegiado pelo que passou.
Seu Onílson deixou registrados
dois casos de abdução, com intervalo de um ano entre um e outro. Mas é este, de
quatro décadas atrás, o mais intrigante e tido pelos ufólogos como um dos casos
mais contundentes que se têm notícia pela coerência nos muitos depoimentos que
ele deu à época, com poucas divergências entre os relatos.
Tão rumoroso que chegou a ser
monitorado pelo Dops (Departamento de Ordem Política e Social), após o delegado
que cuidou do caso enviar ofício ao então chefe do Serviço de Informações Romeu
Tuma para saber se o catanduvense pertencia a algum departamento de “assuntos
espaciais”. Prova de que o órgão oficial de repressão durante o regime militar
não estava de olho somente em suspeitos aqui na terra. Tinha interesse também
em qualquer movimentação estranha nos céus do Brasil.
A captura
A saga do seu Onílson começou naquele que teria tudo para ser
mais um na rotina de um vendedor. Ele negociava livros didáticos e viajava
muito pelo Estado.
Almoçou mais cedo e avisou a
mulher, dona Lourdes, que tinha compromisso na cidade de Júlio de Mesquita,
aproximadamente 160 quilômetros de Catanduva.
Despediu-se da mulher, deu um beijo
nas filhas Samara e Silvana e partiu. Ninguém imaginava o quanto custaria para
que se reencontrassem.
Já à noite, terminado o trabalho,
ele saía de Marília de volta pra casa quando a 15 quilômetros de Guarantã, da
janela do Fusca, avistou uma luminosidade azulada correndo paralelamente ao
longo dos fios de energia da Cesp. Era, de acordo com ele, um objeto voador não
identificado (óvni). Capturado e levado ao interior da nave, vivenciou
experiências registradas tanto em sucessivas entrevistas dadas a pesquisadores
quanto em sessões de hipnose regressiva, com acompanhamento de membros da
Sociedade Brasileira de Estudos de Discos Voadores (SBEDV) e até da
Aeronáutica.
Extraterrestre, marciano?
Por quase uma semana a família
Pátero ficou sem notícias do vendedor. Seu desaparecimento já tinha sido
registrado à polícia. Encontraram o carro no acostamento da estrada, perto da
porteira da fazenda Água Santa, não muito distante de Guarantã. No interior do
Fusca a mala de seu Onílson, com documentos, cheques e dinheiro. Tudo intacto,
o que só fez aumentar o mistério e levou a família a pensar no pior.
Enquanto as buscas em solo paulista
se mostravam infrutíferas, a imprensa capixaba começava a espalhar a notícia de
um homem que havia caído de um disco voador. Encontrado desorientado, sujo e
cheio de carrapichos por um fazendeiro local em morro de Colatina, cidade do
Espírito Santo a 1,2 mil quilômetros de Catanduva, Pátero só falava frases
soltas sobre os momentos que diz ter passado no interior do óvni.
Nem mesmo se dava conta de que haviam
transcorrido cinco dias entre o “rapto” pelo óvni e seu aparecimento em terras
distantes. No morro em que surgiu misteriosamente deixou inscrito suas iniciais
- “OP” - como uma pista para o caso de não ser encontrado. Chamado de marciano,
de “homem que viajou no disco voador”, via chegar ao fim seu pesadelo. E
começava o mistério que permanece até hoje.
Notícia correu o Brasil, Alemanha e França.
As duas abduções de Onílson foram tema de reportagens em jornais brasileiros e ganharam destaque em publicações de países europeus, como Alemanha e França, lembra a filha. Samara conta que tinha 13 anos na época em que tudo aconteceu. Ela e a irmã Silvana afirmam que sofreram muito. “A gente acaba evitando falar no assunto, por medo de sermos vistos como loucos. As abduções são mais comuns do que se imagina, mas muitos não revelam por vergonha.” Ela se lembra do drama vivido pela família quando o pai desapareceu na região de Marília. Até seu reaparecimento, no Espírito Santo, conviveram com toda angústia da espera. “Vivemos momentos muito tensos a partir daí, pois muita gente queria falar conosco. Recebemos a visita até da Gal Costa, que gostava muito do tema, além de muitos ufólogos que vieram pesquisar o caso do meu pai.” Dentre os pesquisadores, estiveram presentes Jorge Nery, do Instituto de Astronomia e Pesquisas Espaciais de Araçatuba, o mesmo que investigou os sinais nos canaviais de Riolândia. O caso também foi investigado por uma das mais prestigiadas instituições de pesquisa ufológica do País, a Sociedade Brasileira de Estudos de Discos Voadores. E chegou até o Dops pelo delegado do caso, que solicitava informações a respeito do seu Onílson e das pessoas que o pesquisavam, a fim de saber se integravam algum departamento oficial de “assuntos espaciais” e se podiam oferecer algum esclarecimento sobre o homem que disse haver viajado num disco voador.
DEPOIMENTO
Eu vi um homem realmente convicto.
Marival Correa
O que levaria um homem de 75 anos,
trabalhador, pai-avô, que depende de sua boa reputação e de sua credibilidade
para fechar seus negócios, a criar uma história sobre abdução e experiências em
um disco voador? Quando estive diante de seu Onílson Pátero, em janeiro de
2008, essa foi a principal pergunta que tinha em mente. Para passar de
“contador de causo” à pecha de maluco, mentiroso e adjetivos equivalentes seria
um pulo. Um risco grande demais que não compensaria qualquer suposta tentativa de
marketing pessoal ou intenção de se promover.
E o que vi foi um homem convicto,
resoluto. Um homem íntegro, com sinceridade expressa no olhar e com a arma mais
importante de quem acredita na causa que defende a verdade. Ouvia cada
questionamento atentamente e respondia com paciência e firmeza. O que pude
concluir é que algum fenômeno, algo inexplicável, pode sim ter acontecido com
ele.
No interior da nave, fios em forma de teias e um ‘clone’.
Seu Onílson descreve o interior da
nave espacial, pela qual diz ter sido abduzido, como um local complexo dotado
de muitas salas e equipamentos. Ao emaranhado de fios, responsáveis por gerar
intensa luminosidade no ambiente, ele deu o nome de teias de aranha, dispostas
em três e até quatro camadas. As luzes eram esféricas, ora completamente
expostas, ora inseridas em tubos. Havia ainda nas paredes de três a quatro
pontos luminosos intermitentes, “do mesmo modo como se vê numa tela de TV ao
ser desligada”, descreveu.
Não constam relatos sobre a que
tipo de experiência teria sido submetido durante a abdução, nem uma descrição
de como seriam as criaturas. Contou, porém, que foi levado por três seres
encapuzados a um dos compartimentos do óvni, onde foi amarrado com cintas de
aço atadas à uma cadeira metálica. Diz que trocou de roupa e vestiu uma espécie
de macacão recoberto por fios e que foi analisado por meio de instrumentos e de
luzes.
O clone
Em seguida, ainda preso à cadeira, lembra-se
de estar com um capacete dotado de um pequeno visor. Viu uma série de
indivíduos em fila indiana passarem à sua frente. Eles estavam postados ora de
frente, ora de lado, mas sempre cobertos por capuzes que se constituíam num
prolongamento da própria roupa que vestiam, o que impedia fazer qualquer tipo
de descrição detalhada sobre como eram. Lembra apenas que “alguns tinham
aspectos humanos”.
O único que não estava oculto pela
vestimenta era o último da fila. Um susto enorme para o vendedor. Segundo ele,
aquele ser era uma cópia exata dele. Vestia as mesmas roupas que usava quando
foi abduzido e até os óculos eram iguais. Como isso seria possível? Seria o
primeiro caso de clonagem humana durante uma abdução? Nem mesmo seu Onílson
tinha respostas, quando questionado tanto pelos pesquisadores quanto pela
reportagem, há seis anos, poucos meses antes de sua morte.
A descida
Um dos últimos episódios de que se
lembra, dentro da nave, foi ainda estar com braceletes de aspecto metálico,
amarelados e opacos, nos pulsos e nos tornozelos, que não o incomodavam. Depois
de ter sido colocado num tipo de urna, parecendo de isopor, embutida no piso e
onde havia lugar para todo o corpo se acomodar anatomicamente.
Não soube precisar por quanto tempo
ficou nessa urna, aliás a partir daí disse não se lembrar de mais nada. Só sabe
que ao recobrar a consciência já estava novamente vestido com a sua própria
roupa e em outro compartimento mais espaçoso. Depois diz ter sido desembarcado
do objeto pela mesma esteira que o capturou no início da experiência. Contou
que foi colocado de forma suave sobre o chão. Seu Onílson notou que era noite
alta e que estava sobre um morro. Dali ainda observou a partida do estranho
objeto. Restava a ele saber onde estava e tentar entender tudo o que havia
acontecido. Mas quem acreditaria?
Fonte: DiárioWeb