Jorge
Quillfeldt
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Carlos Alexandre Wuensche de Souza |
Tal preocupação é vista como um ato de bom senso por Jorge
Quillfeldt, pesquisador em astrobiologia e professor da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS). Embora evite visões alarmistas, ele se apega à
história da humanidade - único caso conhecido de vida no universo - para
afirmar que, se um contato com alienígenas ocorrer, é provável que tenha
consequências negativas aos terráqueos. Em uma analogia semelhante, Hawking
lembrou como a descoberta da América foi danosa aos povos nativos do
continente.
“A história humana não é muito bonita”, diz Quillfeldt. “É
baseada em povos com ligeira ou grande superioridade tecnológica e cultural
conquistando outros povos. Povos mais fortes, com capacidade de guerrear maior
ou tecnologia maior, acabam subjugando outros, quase sempre de forma negativa e
destruidora”, compara.
A interpretação se parece com a de Carlos Alexandre Wuensche
de Souza, doutor em astrofísica e chefe de gabinete da direção do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Para ele, se a referência for a
história humana, pode-se presumir que uma civilização extraterrestre terá igual
conduta colonizadora.
Wuensche, contudo, acha possível que uma civilização muito
mais avançada não tenha interesse predatório - situação também cogitada por
Quillfeldt. “É possível supor que, se acontecer um contato, os povos mais
desenvolvidos tenham o cuidado de não chegar na hora errada, de monitorar a
Terra e se aproximar no momento certo”, avalia o neurocientista.
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Milan
Ćirković |
Já para Milan Ćirković, professor e pesquisador do
Observatório Astronômico de Belgrado, na Sérvia, e pesquisador associado do
Instituto do Futuro da Humanidade da Universidade de Oxford, na Inglaterra, o
risco é extremamente exagerado. Ele afirma que o progresso científico e
tecnológico da humanidade vem acompanhado de progresso moral, citando a
rejeição a práticas respeitadas no passado, como a escravidão.
'Rezem', diz diretor da Nasa sobre aproximação de asteroides
"Rezem", diz diretor da Nasa sobre aproximação de
asteroides
Ćirković entende que possíveis civilizações que se dedicam à
expansão interestelar devem ser moralmente superiores, o que incluiria um elevado
grau de tolerância e compreensão para aqueles de tecnologia e moral inferiores.
“Acredito na mesma tendência para o futuro, ou, então, uma civilização de
tecnologia avançada se destruiria muito antes de se aventurar em voos espaciais
interestelares”, diz.
CONSENSO
Entre os especialistas, há quase um consenso de que vida
inteligente extraterrestre não será encontrada nos próximos anos. Wuensche diz
aguardar pela identificação fora da Terra de uma forma de vida simples, como
uma bactéria. Também não acredita em contato direto, como na coleta de material
por um astronauta, mas pela exploração de sondas, como ocorre em Marte,
atualmente. “Se eu tivesse que apostar, apostaria nisso”, diz.
“Há vida, sim, mas não vamos encontrar ETs ou naves
espaciais”, concorda Quillfeldt, acrescentando que a ideia principal na
comunidade astrobiológica indica que, se houver vida em outros planetas, é
provável que seja unicelular, como a que originou os demais seres vivos na
Terra.
Ćirković, por sua vez, crê na possibilidade de contato
inteligente, mas não em curto prazo. Para ele, a humanidade está mais propensa
a detectar vestígios de atividades ligadas à megaengenharia em civilizações
extraterrestres avançadas do que receber suas mensagens intencionais. “Desta
etapa até a comunicação real com inteligência extraterrestre, se levará muito
tempo, o que permitirá uma reflexão mais profunda e preparação para vários
desfechos possíveis”, considera.
SETI
Giuseppe
Cocconi
Philip Morrison
Para Ćirković, a forma ortodoxa como ocorre a busca por
inteligência extraterrestre é bastante ingênua e improvável de obter sucesso.
Ele entende que o chamado projeto Seti (Search for Extraterrestrial
Intelligence), que busca contato por sinais de rádio, sofre com a falta de
recursos e carece de um grande esforço de reestruturação.
Quillfeldt também destaca a deficiência financeira do Seti e
a entende como fator decisivo para o projeto não realizar uma busca completa e,
por isso, não ter obtido sucesso até agora. Segundo ele, o termo Seti surgiu em
1959, a partir de artigo dos físicos Giuseppe Cocconi e Philip Morrison na
revista científica Nature, propondo o uso do rádio para possibilitar o contato
caso a tecnologia extraterrestre fosse razoável.
O Seti, no entanto, não é apenas busca por rádio. Várias são
os projetos vinculados ao seu objetivo central. Carlos Wuensche participa do
SETI@home, desenvolvido pela Universidade de Berkeley, na Califórnia, que
consiste na disponibilização do seu computador para, em momentos de ociosidade
da máquina, receber dados dos telescópios Seti, analisar parte deles e
devolvê-los à central - processamento de dados que se chama computação
distribuída.
Curiosity
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