Washington - A chamativa baixa atividade na superfície solar, que vem apresentando muito poucas manchas no último século, desperta a curiosidade dos cientistas, que se questionam sobre quanto tempo esta calmaria durará.
As manchas solares são observadas
há milênios, a primeira vez por astrônomos chineses e, em 1610, pela primeira
vez por Galileu Galilei.
As manchas solares são
importantes porque a intensa atividade eletromagnética que as acompanha produz
fortes modificações das radiações ultravioleta e de raios-X, assim como
tempestades solares que podem perturbar as telecomunicações e a rede elétrica
na Terra, explica Andrés Muñoz Jaramillo, físico da Universidade de Montana.
As manchas solares aparecem em
ciclos de aproximadamente 11 anos. Aumentam a cada dia por rajadas e, em
seguida, diminuem drasticamente antes de voltar a se estender novamente.
Mas este ciclo - considerado o
24º - surpreendeu os cientistas por sua escassa atividade. O número de manchas
identificadas desde que começou, em dezembro de 2008, é muito inferior à média
diária observada nos últimos 250 anos. É, de fato, menos da metade.
"Este ciclo, que logo
deveria alcançar sua atividade máxima, é cientificamente interessante já que é,
de longe, o menos ativo da era espacial", ou seja, dos últimos 50 anos,
disse à AFP Doug Biesecker, um físico do Space Environment Center da Agência
Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA).
O ciclo anterior, o 23º, teve seu
apogeu em abril de 2000, com 120 manchas solares diárias em média. Este pico
foi seguido de uma atividade mínima, particularmente calma, que terminou em
dezembro de 2008 e que marcou o início do ciclo atual.
Em 2009, primeiro ano do 24º
ciclo, quando normalmente teve que ocorrer um aumento da atividade solar, os
astrônomos chegaram a contar até 266 dias sem nenhuma mancha solar.
Com base nos mínimos do 23º
ciclo, os físicos tinham previsto um 24º mais calmo. "A projeção era de 90
manchas diárias no apogeu do ciclo, previsto para o fim de 2013, e está claro
que estamos longe" deste número, observou Doug Biesecker.
"Em 2012, o número de
manchas chegou a um teto de 67, isto é, cerca da metade da média",
afirmou. É preciso remontar ao pico do 14º ciclo, em fevereiro de 1906, para
encontrar uma atividade menos intensa, com um pico de 64 manchas.
"Todos se surpreenderam com
a duração do mínimo do ciclo atual, que se estendeu três anos, ou seja, três
vezes mais que nos três ciclos anteriores da era especial", acrescentou
Muñoz Jamillio à AFP.
Alterações dos campos
magnéticos
Além do enfraquecimento de sua atividade, o Sol
experimenta anomalias na mudança de polaridade de seus campos magnéticos.
Normalmente, o polo sul e o polo norte invertem simultaneamente sua polaridade
a cada onze anos, em média, o que corresponde à duração de um ciclo solar.
Durante este processo, os campos magnéticos polares
perdem força para cair perto de zero e reaparecem novamente quando a polaridade
se inverte, explicaram estes cientistas. Mas no ciclo atual, os polos estão
dessincronizados. O sul já inverteu sua polaridade há vários meses, o que fez
com que tenha a mesma do polo sul.
Segundo as últimas medições por satélite, "o polo
sul, por sua vez, inverterá muito em breve sua polaridade", destacou Todd
Hoeksema, diretor do Observatório Solar Wilcox, da Universidade de Stanford
(Califórnia), que não aparece preocupado com este fenômeno.
Os cientistas se questionam sobre quanto tempo durará
esta calmaria solar. Alguns se questionam se estamos assistindo a um período
prolongado de pouca atividade solar, comparável ao chamado "Mínimo de
Maunder", entre 1650 e 1715, durante o qual não se observou quase nenhuma
mancha solar.
Estes anos coincidiram com um período de claro
esfriamento, denominado Pequena Era Glacial na Europa e na América do Norte.
"Houve uma forte correlação entre a escassa
atividade solar e a Pequena Era Glacial (pois) o Sol contribui com a
variabilidade climática", afirmou Doug Biesecker.
Mas, acrescentou que "apesar de a debilidade da
atividade solar observada recentemente atenue em parte o aquecimento global,
não o detém. A temperatura só aumenta mais lentamente".
Fonte: Exame