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BURACO NEGRO

terça-feira, 4 de março de 2014

CONTATADOS VIRAM FONTES PARA DISSERTAÇÃO SOBRE UFOLOGIA...

Leandro Martins Psicólogo
A carência de pesquisas psicológicas sobre experiências ufológicas foi decisiva para que Leonardo Martins, 35, mestre e doutorando em psicologia, propusesse à Universidade de São Paulo (USP) dissertação de mestrado em que ouviu o relato de 46 pessoas que garantem ter tido contado com extraterrestres.


CONTE SOBRE SUA PESQUISA COM CONTATADOS.

Eu trabalho no laboratório de Psicologia Anomalística e Processos Psicossociais (Inter Psi) do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) e minha dissertação de mestrado foi sobre “Contatos imediatos: Investigando personalidade, transtornos mentais e atribuição de causalidade em experiências subjetivas com Óvnis e alienígenas”. Investiguei o perfil psicológico 46 pessoas que alegaram encontros com pretensos extraterrestres ou ÓVNIs. Os relatos vão de simples visões de Óvnis a abduções e contatos amistosos.

QUAL FOI SEU OBJETIVO?

Investigar se essas pessoas apresentavam determinadas características psicológicas que as predisporiam a ter essas experiências sem reconhecer que elas vieram de “dentro delas”, e não de outro planeta. As características investigadas incluíram traços de personalidade como ter a mente aberta, tendência a fantasiar, vontade de aparecer e de ter uma vida estimulante, além da presença ou não de transtornos mentais que poderiam causar alucinações e delírios. E, por fim, como essas pessoas, diante de uma experiência subjetiva inusitada como ver luzes ou seres estranhos, concluem ter testemunhado a presença de extraterrestres.

POR QUE O INTERESSE EM ESTUDAR A REALIDADE DOS CONTATADOS?

Eu nasci e cresci em Pedro Leopoldo (Grande BH), uma cidade repleta de histórias extraordinárias desse tipo. Como sempre fui muito curioso e desconfiado, desejava ardentemente saber se o que aquelas pessoas contavam tinha mesmo acontecido ou se era “coisa da cabeça delas”. Afinal, havia todo tipo de histórias: encontros com extraterrestres baixos, altos, com um olho apenas ou vários, visões de pequenas bolas de luz e de naves enormes, abduções. Essas histórias e experiências tinham algo de fascinante a ensinar, seja a respeito de eventuais extraterrestres, seja sobre os confins da mente humana. Tornei-me psicólogo e constatei uma lacuna de pesquisas psicológicas sobre experiências ufológicas, especialmente no Brasil. Foi quando decidi unir minha curiosidade infantil à minha capacitação profissional e colocar a mão na massa.

QUAL FOI O MÉTODO DA PESQUISA?

Testes psicológicos para avaliar a saúde mental e as características de personalidade dos voluntários, além de entrevistas demoradas sobre seu histórico de vida, suas experiências com alienígenas, bagagem cultural, crenças etc.

HÁ ALGUM PADRÃO RECORRENTE EM TODAS ELAS?

As pessoas descrevem quase sempre as mesmas coisas, desde a aparência humanoide dos ditos alienígenas (embora haja variações significativas de tamanho, peso, detalhes do corpo) até os formatos das pretensas naves (normalmente esféricas cilíndricas ou discoides). As sequências de eventos durante as experiências se repetem, desde o comportamento dos óvnis em voo (velocidades fantásticas, desaparecimentos no ar, mudanças de forma) até a conduta dos supostos alienígenas durante as abduções e contatos amistosos (o tipo de mensagem que é passada, a sequência de exames durante as abduções). Os voluntários tendem a partilhar características como boa saúde psicológica e mente mais aberta para novidades e para o questionamento de convenções sociais, além de um senso estético mais apurado.

QUAL FOI A SUA CONCLUSÃO?

Como foram estudadas variáveis, houve conclusões a respeito de cada uma delas. Os voluntários não apresentam transtornos mentais em proporção acima da população em geral. Contudo, a maioria das pessoas que alegaram contatos próximos tinham certas características que parecem se enquadrar no que a psicologia e a psiquiatria chamam de “esquizotipia saudável”, tendência a ter alucinações e ideias não convencionais sem que isso implique nos prejuízos que caracterizam um transtorno mental. São pessoas saudáveis, que tendem a lidar bem com experiências altamente estranhas e, ao menos em grande parte, sugestivamente originadas nelas mesmas.

A PESQUISA PAROU POR AÍ OU VOCÊ VAI SE APROFUNDAR MAIS?

Já estou fazendo novos estudos, utilizando outros métodos para ver se essas conclusões anteriores estão corretas ou não. Ao mesmo tempo, diferentes pessoas dão diferentes sentidos para suas experiências, mas sempre a partir da combinação de influências culturais.

ALGUM DIFERENCIAL QUE CHAMASSE A ATENÇÃO?

Enquanto as pessoas que moram em áreas interioranas tendem a se valer do folclore e do cristianismo para explicar o que viram (mãe do ouro, algo enviado por Jesus ou pelo demônio), pessoas de áreas urbanas normalmente se valem de uma combinação de influências científicas e esotéricas (extraterrestres espiritualmente evoluídos energias).

COMO VOCÊ DEFINE A CASUÍSTICA UFOLÓGICA?

Longe de a explicação extraterrestre ser algo natural, evidente por si mesma (como querem os ufólogos), ela é uma construção social e histórica que se nutre de produtos culturais altamente específicos, da história de vida de cada testemunha e de experiências subjetivas estranhas.




Créditos: ANA ELIZABETH DINIZ
Fonte: O TEMPO