COMO CIENTISTAS ESTÃO DESCOBRINDO CADA VEZ MAIS PLANETAS SEMELHANTES À TERRA?
Onde estão esses ETs? Se apenas na nossa galáxia existem cerca de 200 bilhões de estrelas — nosso sol não passa de uma delas — por que supor que a Terra é o único planeta com vida? Hoje, graças ao trabalho de astrônomos dedicados à caça de “exoplanetas” (aqueles girando em torno de outras estrelas), sabemos que a maioria delas possui um sistema planetário. Juntando essa abundância de outros mundos ao fato de as leis da física e da química serem as mesmas por todo o universo visível, fica difícil imaginar que seríamos tão especiais. Mas como fazer para buscar por vida extraterrestre?
Para astrônomos, estudar o Cosmo é buscar por fontes de luz. Na caça de planetas isso complica, pois eles apenas refletem a luz de suas estrelas, e tendem a ser ofuscados por ela. É como tentar enxergar um mosquito voando em frente a um holofote. Mas esse tipo de empecilho não costuma deter cientistas. Daí que, nos últimos 15 anos, mais de mil exoplanetas foram detectados, usando métodos diversos. Se os primeiros eram bem diferentes da Terra — com massa e tamanho muito maior —, os mais recentes são cada vez mais parecidos. O principal objetivo é encontrar um planeta que seja nosso “primo”: com massa e tamanho semelhantes a Terra, e orbitando a estrela em sua “zona habitável”, a região onde a água, se existir ali, será líquida.
A caça a mundos parecidos usa, essencialmente, dois truques: no primeiro, estudam-se variações no movimento da estrela devido ao puxão gravitacional dos planetas que giram à sua volta. Quando os planetas são bem grandes e giram próximos à estrela (seria o caso de um planeta do tamanho de Júpiter fazendo uma órbita bem próxima, como a de Mercúrio), o efeito é detectável através de variações na luz da estrela, que ora se aproxima, ora se afasta. Esse método inicial detectou muitos planetas gigantes. Foi útil por demonstrar duas coisas: que exoplanetas existem na maioria das estrelas, e que podem ser detectados. Mas não é dos melhores para se achar lugares parecidos com a Terra. É aqui que entra a missão Kepler, da Nasa.
O SATÉLITE É CAPAZ DE MEDIR O MINÚSCULO DECRÉSCIMO NA LUZ DE UMA ESTRELA QUANDO UM PLANETA PASSA EM SUA FRENTE
O satélite Kepler é capaz de medir o minúsculo decréscimo que ocorre na luz da estrela quando um planeta passa na frente, o que chamamos de “trânsito”. Esse método tem tido enorme sucesso e é hoje capaz de detectar não só um como vários planetas. Foi assim que, ano passado, o time da NASA anunciou a descoberta de um sistema planetário girando em torno da estrela Kepler-186, de um tipo que tem metade da massa do Sol e brilho bem mais fraco. Até o momento, cinco planetas foram identificados (e confirmados por telescópios aqui da Terra), incluindo o Kepler-186f, com raio apenas 13% maior que o da Terra. O mais importante é que o planeta gira na zona habitável da estrela: se houver água por lá, dependendo da atmosfera, poderá ser líquida.
Não é o mesmo que detectar vida extraterrestre, mas é um enorme passo adiante. Missões futuras serão capazes de analisar a composição da atmosfera de exoplanetas. Com isso, estaremos bem mais próximos de confirmar a existência de ETs. E, se a atmosfera for bem poluída, saberemos que são inteligentes. Ou acham que são.
*Professor de física e astronomia do Dartmouth College, nos EUA. É vencedor de dois prêmios Jabuti e seu mais novo livro chama-se Criação Imperfeita.
Fonte: Galileu